terça-feira, 16 de outubro de 2007

Santiago...

Tudo bem que a gente tem mais é que prestigiar o cinema nacional, afinal qualquer tentativa de se fazer filmes no Brasil é para se louvar tamanho o esforço e a determinação que um realizador deve ter nesta terra de tantos obstáculos...
Tudo bem que João Salles é um cara pra quem se deve tirar o chapéu por tudo que já fez e continua fazendo pela cultura de nosso país, pelo seu documentário Notícias de Uma Guerra Particular (que é sensacional), pela sua revista/jornal Piauí de conceito e conteúdos raros nestes tempos de antas dominantes...sim, por tudo isso esse cara merece nossos aplausos...
Mas, meu amigo, tá difícil de engolir seus últimos trabalhos...
Foi com muita decepção que saí do cinema depois de assistir a Entreatos, aquele documentário que cobria os últimos dias da campanha que elegeu Lula. Por motivações conceituais, não políticas.

E foi com muito esforço, mas muito esforço mesmo que permaneci na sala até o final de Santiago, seu mais recente trabalho. O filme, que segundo a Veja é o melhor em cartaz nos cinemas de Sampa neste momento, é de uma chatice sem tamanho...são depoimentos tomados de um certo Santiago, um senhor de 80 anos que foi mordomo da família Salles por muitas décadas. Ele vive sozinho no Rio de Janeiro num apartamento minúsculo e mal iluminado. Tem várias manias e muitas histórias...os críticos o consideraram um poema sobre o tempo e a terceira idade. A mim me soou decadente e desarticulado...em alguns momentos tive a impressão de estar assistindo ao filminho caseiro que o filhinho do papai fez pra família rica ver sobre o mordomo excêntrico que trabalhava lá em casa e agora estava no auge de sua decrepitude e falência mental. Vi entrevistas do João enaltecendo as milhares de minibiografias de aristocratas que Santiago datilografou e catalogou ao longo de sua vida como se aquilo fosse um trabalho para se levar a sério. Pra mim não passou de uma manifestação da loucura do pobre argentino que viveu entre os ricos, admirou-os, invejou-os e morreu na pobreza, sozinho e maluco. Numa determinada seqüência, as mãos enrugadas do velho ex-mordomo dançam para a câmera em close num fundo negro...anote aí, quando essa cena começar você pode sair, comprar um saquinho de pipoca, comer, ir ao banheiro, telefonar e depois voltar e as mãos ainda estarão lá, "bailando", tirando uma da sua cara...

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