sábado, 24 de fevereiro de 2007

O Último Rei e A Rainha eterna...

Acho que o público está mais exigente com relação ao que é verossímil ou não nos filmes...Principalmente nos que se baseiam em fatos reais e que contam a história de pessoas que viveram em nosso tempo...Depois que Mel Gibson propagandeou seu rigor em obrigar seu elenco a falar em aramaico (caso de A Paixão de Cristo) ou em maia yucatec (caso de Apocalypto) é difícil aceitar ver o Idi Amin Dada discursando para uma tribo de Uganda em inglês. Como pra mim também foi difícil aceitar o personagem do jovem médico escocês que vira amigo íntimo do ditador. Um cara que nunca existiu. Tive a mesma sensação quando vi O Segredo de Beethoven com aquela ajudante do compositor que também nunca existiu. No caso de O Último Rei da Escócia, a performance arrebatadora de Forest Whitaker no papel do general-ditador ugandense que deve valer o Oscar pra ele como todos os especialistas estão prevendo. Merecido. Mas o filme é 4 estrelas na opinião deste que escreve.
A estrelinha que faltou eu dou para A Rainha, um filmaço! Gostei muito!
Todo mundo já deve saber do que se trata: os dias que se seguiram à morte da ex-Princesa Diana e a postura adotada pela família real britânica no episódio. A Helen Mirren como também dizem os especialistas é barbada no Oscar de melhor atriz. E não há como negar que ela fez por merecer.

Aliás todo o elenco está fantástico! O cara que faz o Tony Blair é sensacional!. Meu destaque é para o roteiro, cheio de curiosidades acerca do protocolo da corte e do que aconteceu do lado de dentro do palácio de Buckingham. Uma aula de história contemporânea. O filme se vale de imagens reais dos telejornais da época e tem como ápice o discurso em rede nacional da Rainha Elizabeth II, cedendo à pressão da mídia e da opinião pública, dando satisfações aos seus súditos. Informações preciosas, momentos de emoção (a Rainha de volta à Londres passeando pela calçada com as pessoas se curvando diante dela é uma cena linda!...). Lamentei a falta de informação da platéia do cinema em que assisti que não entendia a fleugma britânica e todo o aspecto ritualístico envolvendo o dia-a-dia da família real. Riam na hora errada...comentários em voz alta...uma tristeza...Mas o filme é ótimo! E depois do filme, confira no You Tube o discurso da verdadeira Rainha que faz com que você admire ainda mais o trabalho de Helen Mirren.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Pecados Íntimos

Sinceramente, não consigo entender como pode Pecados Íntimos não estar concorrendo ao Oscar de melhor filme ou diretor, os dois prêmios mais respeitados do mercado cinematográfico. O filme é maravilhoso!...
Está indicado nas categorias de melhor atriz, Kate Winslet, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro. Mas é pouco. Pecados Íntimos é um filme adulto, desses que retratam a malha intrincada das relações humanas e a diferença entre o convívio social e nossos desejos ocultos, sorrateiros, que escapam ao controle e se revelam quando menos se esperam. Tudo isso sem fazer concessões baratas ao público. Sem cair em clichês manjados. Pelo contrário surpreendendo a platéia com soluções muitas vezes ousadas mas coerentes com seus personagens. Kate Winslet que a cada trabalho fica mais respeitada pela crítica mostra neste filme simplesmente o melhor momento de sua carreira. Aliás aqui ninguém faz feio...o par romântico de Kate é Patrick Wilson que segurou um filme sozinho com a garota de Menina Má.Com e volta a dar um show aqui. Juntos formam um casal luminoso que consegue tornar o absurdo, verossímil, o corriqueiro, encantador, o particular, universal. O indicado do filme ao Oscar de melhor ator coadjuvante é Jackie Earle Haley, um veterano de séries de TV que tem um papel difícil do pedólatra que luta contra sua perversão. Já se imaginou sentindo pena de um pedólatra? Essa é uma das provocações do filme, que pra variar deve ter tido seu título traduzido pelo Tiririca. Little Children, seu título original ficaria muito melhor ao pé-da-letra, Crianças Pequenas. Aliás as criancinhas do filme (a filhinha de Kate Winslet e o filhinho de Patrick Wilson) são lindas e carismáticas. É com elas que a história começa, é com elas que tudo termina. Seus pais vivem em mundos perfeitos, mas se descobrem infelizes, infiéis, hipócritas, cheios de energia e sofrimento, e reagem a tudo com uma ingenuidade pueril revelando que, no fundo, diante de muitas questões da vida, no fundo somos todos do jardim de infância...

Alá-lá-ô-ôôô-ôôô...!...Ziriguidum!

Saldo do meu Carsnavau no Sinema:
A Rainha
À Procura da Felicidade
O Último Rei da Escócia
Pecados Íntimos

daqui a pouco, comentus...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Apocalypto

Acho engraçado os críticos de um modo geral, que às vezes parecem combinar numa reunião de boteco o que todos dirão sobre um determinado filme sem destoar muito das opiniões um do outro. Noto esse movimento em vários lançamentos. Não conheço as motivações, não pertenço ao mundo dos críticos. Nem queria porque a impressão que me dá é que eles se divertem menos que eu. É o caso deste novo filme do sempre criticado Mel Gibson (eu gosto do cara e aí?...vai encarar?...ele já me divertiu mais em um filme médio do que todas as críticas do Celso Sabadin juntas). Tudo bem que o cara pisou na bola no incidente com o policial a quem manifestou toda sua ira anti-semita e seu bafo alcoólico...mas uma coisa é o homem, outra coisa é sua obra.
Achei Apocalypto, o melhor filme de Mel Gibson.
Nos Estados Unidos o filme foi massacrado. Parece que o episódio com o policial pegou mal mesmo junto à opinião pública. Mas eu não quero saber das opiniões de Mel Gibson.
Eu quero que ele cumpra o que se propõe a fazer: me entreter. (sim, eu sei, não se começa oração com pronome mas, por favor, estamos na era Lula...)
Esqueçam os críticos que o acusaram de ser “excessivamente violento”, ou da “imprecisão histórica”, ou da “obsessão do diretor pelo martírio do corpo”...
Apocalypto é o melhor filme de perseguição que eu já vi. Era essa sua intenção e foi isso que ele fez...!
E ninguém pode dizer que o sr. Gibson não sabe contar uma história. Tudo acontece num ritmo frenético, com seqüências de ação complexas e bem construídas, deixando o espectador angustiado com a luta do protagonista pela sua vida e da sua família. O cara sabe filmar!
Vá assistir...depois a gente conversa...

PS: Eu sempre tive vergonha de dizer que achava o seu Hamlet o melhor do cinema até ler que alguns especialistas estrangeiros em Shakespeare como a Dra Laurie Rozakis (PhD em Literatura Inglesa pela Universidade de Nova York) consideravam a versão de Mel Gibson genial.

Não tenha preconceito e saia satisfeito...

Borat



Borat é engraçadíssimo!... Inteligente, engajado, non-sense, ousado.

E uma aula para os humoristas 'coxinhas' da televisão brasileira.

Se você acompanha um pouco do noticiário internacional, vai rir mais ainda...!

Palmas para... O Perfume

Eu não li O Perfume do Patrick Süskind, um alemão que ficou milionário com essa obra publicada na década de 80 e que vendeu pacas. Mas duvido que o livro seja melhor que esta sua adaptação para o cinema (sim, eu sei, não se comparam duas formas tão diferentes de expressão, filme é filme, livro é livro)...Mas o fato é que saí da sessão admirado, deslumbrado com o que vi. A história se passa na França do século XVIII. Um lugar que a história nos revela, era o maior fedor.
O povo vivia sujo, sem tomar banho, comendo lixo. É lá que nasce o protagonista, Jean-Baptiste Grenouille, dono de uma capacidade extraordinária de captar, identificar e memorizar...cheiros!
Seu poderoso nariz o leva a ser um notável perfumista obcecado em buscar o aroma perfeito...aquele que fará toda a humanidade render-se ao seu gênio criador. O problema é que para Grenouille produzir tal aroma ele precisa fazer algo um pouco inconveniente, tipo...matar umas pessoas. Assim começa o calvário desse anti-herói que comete crimes horríveis ao mesmo tempo que nos faz torcer por ele. Efeito parecido com o que ele quer para seu perfume perfeito: o da sedução absoluta de toda a humanidade.
Atenção para as soluções visuais encontradas pelo diretor (Tom Tykwer, que fez Corra, Lola, Corra) para mostrar a imagem dos “cheiros” captados por Jean-Baptiste: simples, diretas e eficientes.
Se você for ver, lembre-se que tudo se trata de uma grande fantasia, e não de uma história baseada em fatos reais, como muitas vezes o tom sombrio e a caprichosa direção de arte o fará pensar. Só assim, com essa postura, você absorverá o gran finale, um delírio pertinente do autor e o fim de Jean-Baptiste, um personagem para entrar na história dos grandes filmes, tanto quanto O Perfume deve virar um clássico.

O filme tá meio escondido no meio de tantos indicados ao Oscar (que injustamente ignorou O Perfume), pouco se fala nele. Mas vá assistir.
É sensacional!...

O Labirinto do Fauno

Quando assisti a Hellboy pela primeira vez (acho que em 2004) senti que naquele filme havia algo mais do que uma simples historinha de um herói (no caso um anti-herói) que enfrenta o mal, cheia de efeitos especiais, etc...
Hoje (dezembro de 2006) depois que vi O Labirinto do Fauno, percebi claramente o trabalho de um diretor que evoluiu em sua capacidade de contar bem uma história ilustrando-a com imagens bem elaboradas. O Labirinto do Fauno do diretor mexicano Guillermo Del Toro (ele é parente do Benício, o ator...) é de uma beleza tão grande, tão intensa que ao mesmo tempo que encanta, às vezes até sufoca...Aliás há no Labirinto tanto desse paradoxo...Nunca havia visto um filme costurar com tanto talento violência (sim o filme é bastante violento! Não é para criancinhas...) e delicadeza...Fantasia e realidade se entrecruzam com a sensibilidade de um roteiro inspirado e uma direção criativa. Um filme que fala direto ao coração de quem o assiste, em especial ao das mulheres, há muito do universo feminino na história (impossível não se emocionar com o apelo que menina faz ao irmãozinho que ainda não nasceu, encostada na barriga da sua mãe grávida e doente...).
Uma fábula nos moldes clássicos adaptada ao público do século XXI. E que provavelmente ganha o Oscar de filme estrangeiro deste ano. Filmão...