quarta-feira, 29 de novembro de 2006

...aplausos para O Grande Truque...!

Fiquei sem comentar um filme que vi umas semanas atrás por indisciplina deste blogueiro...Foi mal...O filme é ótimo. Gostei muito.
Chama-se O Grande Truque.
É uma grande homenagem a uma figura que já fez parte de algum momento da vida de todos nós: o mágico.
Seja na infância, nos programas de TV, no circo da cidadezinha de interior, todo mundo já viu ou se encantou com um mágico.
Eu, que por força de minha profissão já vi de perto o trabalho de muitos ilusionistas nunca havia parado pra pensar na força dessa personagem.
E este filme me fez refletir a respeito...há muita beleza e poesia no trabalho de um mágico...
Uma das decisões mais importantes que tomamos na vida é qual vai ser a nossa profissão...qual a atividade que vai prover o nosso sustento até o fim dos nossos dias...e alguém que decide ser mágico é alguém que faz a escolha pelo encantamento...um profissional cujo sucesso vai depender da sua capacidade de encantar o próximo com um truque, uma ilusão, uma miragem...um profissional que precisa ensaiar e treinar tanto quanto fazem os atores, cantores, bailarinos...
Palmas para os mágicos e para este belo filme do Nolan que fez o inesquecível Amnésia (fez também a Bat-bobagem ‘Batman Begins’ , mas deixa pra lá...) e volta à tela com este O Grande Truque (The Prestige). Você vai lembrar da edição de Amnésia, fragmentada, não-linear, nervosa...o roteiro é muito bem amarrado, o elenco dá um show...! Hugh Jackman e Christian Bale são dois mágicos na Londres do final do século XIX que se admiram, se odeiam, se invejam e se perseguem obssessivamente numa disputa mortal pelos segredos de seus números. Scarlett Johansson fica nesse meio de campo desses dois malucos que tiveram o mesmo tutor, Michael Caine, o engenheiro das traquitanas dos bastidores que possibilitam a realização dos números. Sua elegância habitual proporciona alguns dos melhores momentos do filme como o discurso inicial que explica do que é composto todo número de mágica.
Um filme muito legal que vale a pena assistir!..
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domingo, 12 de novembro de 2006

A Pequena Miss Sunshine e porquê ir ao Cinema é preciso...

Só o Cinema é capaz de nos fazer olhar para nossas próprias vidas com um distanciamento que nos dá percepção crítica e, em alguns casos, transformação.
Little Miss Sunshine conta a história de uma família que convive com o caos: o pai é um fracassado, a mãe uma estressada, o filho adolescente revoltado fez voto de silêncio, o cunhado gay-deprimido-suicida e o avô viciado e pornográfico. Essa combinação explosiva de personagens decadentes forma a desequilibrada família Hoover.

À margem de toda essa zona está a filhinha caçula, Olive, uma criança como outra qualquer, barrigudinha, de óculos e encantadora. Ela é o pivô da história. Por ela, os malucos se unem para realizar o sonho de Olive: participar de um concurso de beleza infantil que vai eleger a Miss Sunshine. Eu me apaixonei pela Pequena Miss Sunshine.
Como o nome diz, ela é o verdadeiro raiozinho de Sol que ilumina essa família descabeçada.
O elenco está espetacular. Todos dão um show em papéis difíceis.
Nota dez para os diretores (um casal de novatos) que observaram inúmeras cenas comuns do cotidiano e as elevaram a um nível de simbolismo muitas vezes comovente.
Como naquela frase do Quintana “canta tua aldeia e encantas o mundo”, o filme parte de uma crítica antiga mas ainda muito legítima à sociedade americana que ensina a seus filhos que ser feliz é vencer tornando seus cidadãos mais competitivos e desumanos e muitas vezes infelizes.
Há sutilezas, olhares, situações que apesar de corriqueiras na vida de qualquer um, ganham um poder revelador na medida em que nos ensinam a perceber nosso delírios.
O carro no qual fazem a viagem até o local do concurso é uma perua kombi velha que precisa ser empurrada se quiserem fazer com que ande. E é com ela que acontecem as cenas de maior significado: ao empurrar o carro, os tresloucados Hoovers têm que se unir toda vez que quiserem seguir em frente...

Um belo exemplar do cinema independente americano, feito com pouco dinheiro (8 milhões de dólares), muita sensibilidade, um elenco inspirado e um roteiro que merece o Oscar.
E merece o seu ingresso...