segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Rei Está Morto. Viva a Pirataria!

Quando é que vão parar de “enrolar” e tomar uma atitude decente para que não cortem o acesso à cultura, deixando o crime organizado mandar no país?
Assistir a um filme como O Poderoso Chefão ou à série The Shield é ver a duas obras de ficção que nos fazem torcer pelos bandidos. Não é, em hipótese nenhuma, uma troca de valores, já que, quem está vendo sabe que é algo inventado, uma história de faz-de-conta, onde o personagem principal, no caso de The Shield, é um policial corrupto, que faz negócios ilícitos com quadrilhas de traficantes para, no frigir dos ovos, ganhar uma grana por fora a fim de sustentar a família. Sim, você não vai ver nenhum episódio com o detetive Vic Mackey (numa interpretação brilhante de Michael Chiklis) torrando dinheiro num carro novo ou numa casa com piscina ou mesmo com amantes. Ele age assim porque tem que cuidar da sua família.
Outra vez, trata-se de uma obra de ficção. Mas imagine a pessoa que resolveu descolar uma grana extra, vendendo uma cópia inédita do filme Tropa de Elite. Segundo as notícias referentes a esse escandaloso caso, a pessoa recebeu 5 mil reais pela cópia, que começou a ser duplicada como coelhos selvagens australianos, infestando fazendas simplesmente porque os fazendeiros eliminaram o predador natural desse mamífero. Desastre ecológico, sem dúvida, como é o desastre cultural da invasão de cópias piratas de Tropa de Elite. Já se sabe que o público de cinema, que lota salas para ver um bom espetáculo, também gosta de freqüentar locadoras e colecionar filmes, enquanto que o consumidor que vai a uma locadora alugar um filme, dificilmente, vai ao cinema.
E, se alguém lhe oferecer um filme que nem foi ainda lançado no cinema e, ainda por cima, dizem ser polêmico, porque envolve o BOPE, a Polícia de Elite do Rio de Janeiro, por que não ceder à sedução da pirataria?
Besteira pura! Ceder a essa sedução está no mesmo parâmetro que cheirar uma carreira de cocaína ou injetar heroí­na na veia, tragar crack ou encher a cara porque levou um fora da namorada.O que irrita nessa história da pirataria de Tropa de Elite ou na pirataria de qualquer outro filme, nacional ou importado, é que os consumidores dessa droga não pertencem às classes menos favorecidas, que não podem se dar ao luxo de gastar cinco reais para comprar um filme. Quem sustenta essa máquina desgovernada é a mesma classe abastada que não vê problema em pagar um papelote de cocaína para consumo recreativo. A linha fina que divide a hipocrisia da falta de conhecimento não existe. Quem compra um filme pirata sabe que está levando uma droga para sua casa. Tenho amigos médicos e mesmos colegas jornalistas que estufaram o peito para dizer que já tinham visto Tropa de Elite em DVD pirata. Mal sabem eles ou, se sabem, fazem como o nosso próprio Presidente da República, que viu no avião presidencial uma cópia inédita de Dois Filhos de Francisco e fiou surpreso em saber que era uma cópia pirata, que comprar um filme pirata ou uma música pirata só aumenta o caixa do cri­me organizado. E as autoridades, o que fazem? O mesmo que fizeram os senadores no caso de Renan Calheiros: viram a Playboy da ex-amante e mãe do filho do senador alagoano!
Será que um dia isso tudo ainda vai mudar?

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