domingo, 12 de novembro de 2006

A Pequena Miss Sunshine e porquê ir ao Cinema é preciso...

Só o Cinema é capaz de nos fazer olhar para nossas próprias vidas com um distanciamento que nos dá percepção crítica e, em alguns casos, transformação.
Little Miss Sunshine conta a história de uma família que convive com o caos: o pai é um fracassado, a mãe uma estressada, o filho adolescente revoltado fez voto de silêncio, o cunhado gay-deprimido-suicida e o avô viciado e pornográfico. Essa combinação explosiva de personagens decadentes forma a desequilibrada família Hoover.

À margem de toda essa zona está a filhinha caçula, Olive, uma criança como outra qualquer, barrigudinha, de óculos e encantadora. Ela é o pivô da história. Por ela, os malucos se unem para realizar o sonho de Olive: participar de um concurso de beleza infantil que vai eleger a Miss Sunshine. Eu me apaixonei pela Pequena Miss Sunshine.
Como o nome diz, ela é o verdadeiro raiozinho de Sol que ilumina essa família descabeçada.
O elenco está espetacular. Todos dão um show em papéis difíceis.
Nota dez para os diretores (um casal de novatos) que observaram inúmeras cenas comuns do cotidiano e as elevaram a um nível de simbolismo muitas vezes comovente.
Como naquela frase do Quintana “canta tua aldeia e encantas o mundo”, o filme parte de uma crítica antiga mas ainda muito legítima à sociedade americana que ensina a seus filhos que ser feliz é vencer tornando seus cidadãos mais competitivos e desumanos e muitas vezes infelizes.
Há sutilezas, olhares, situações que apesar de corriqueiras na vida de qualquer um, ganham um poder revelador na medida em que nos ensinam a perceber nosso delírios.
O carro no qual fazem a viagem até o local do concurso é uma perua kombi velha que precisa ser empurrada se quiserem fazer com que ande. E é com ela que acontecem as cenas de maior significado: ao empurrar o carro, os tresloucados Hoovers têm que se unir toda vez que quiserem seguir em frente...

Um belo exemplar do cinema independente americano, feito com pouco dinheiro (8 milhões de dólares), muita sensibilidade, um elenco inspirado e um roteiro que merece o Oscar.
E merece o seu ingresso...

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